Aline Moreno, Bruno Weilemann, Laura Villarosa, Marcos Duarte, Ruan D'Ornellas, Uýra Sodoma, Vítor Mizael

3+3 Ainda sobre o tempo

08/12/2020

 

 

Em Ainda sobre o tempo, uma série de artistas abordam por meio das suas poéticas indagações que emergem da problemática do tempo, seja a partir de questões densas e históricas ou do instante que concerne a leitura de uma paisagem. Em ambos aspectos residem a problemática das artes visuais como um instrumento de referência temporal cujas lacunas da ausência ou as marcas da presença podem contribuir para a evidência ou apagamento de narrativas.

Com sobreposições em seus trabalhos, Laura Villarosa traz à tona a conjunção de um tempo-imagem. Suas composições amalgamadas são a metáfora da constituição planificada das paisagens: camada sobre camada, tempo sobre tempo vão constituindo o olhar atento e analítico da artista sobre as imagens ordinárias que nos cercam, atribuindo a elas novos significados que lhe permitem uma sobrevida. Quase como uma antítese, Aline Moreno se interessa pela paisagem como processo mental, dissecando o significado de uma imagem ao esgarçá-la no tempo. A artista traz na articulação entre reproduções fotográficas e desenhos algumas questões da interação humana com a natureza. 

Na sua obra, a artista Uýra Sodoma também explicita as contradições na relação entre pessoas, tempo e natureza. A urgência e a relevância do discurso de Uýra pode inicialmente contrastar com os elementos mais legíveis das suas composições. É, no entanto, a emergência nos corpos LGBTQI+ que complexifica o discurso de sobrevivência. O país que mais mata LGBTQI+ no mundo foi também o que ficou reconhecido pelos retrocessos ambientais cujas consequências foram assistidas na Amazônia e no Pantanal neste memorável 2020. Na esteira do tempo como indício de violência, Ruan D’Ornellas, no trabalho apresentado para esta exposição, aborda o apagamento da cultura negra e das tradições da umbanda revelando ainda as marcas do cerceamento simbólico e visual que tiveram origem e sistematização nos séculos de escravização dos negros pelos brancos. 

Enquanto isso, Marcos Duarte traz nos resíduos das paisagens decompostas pelo tempo uma oportunidade de perspectiva. Formas que insinuam uma ausência de vida são refutadas pela organicidade e a memória vívida da sua investigação. Já o artista Bruno Weilemann, nas suas pinturas, interessa-se pelos fragmentos de informação. Reconstituídos em sua obra, eles elaboram uma narrativa que, nas múltiplas finas camadas de tinta, inevitavelmente também compõem uma narrativa temporal. A arte é também um retrato do agora. Assim, Vitor Mizael enfrenta o tempo presente, poética e metaforicamente, a partir dos seus desenhos. Traços que, embora revelem a beleza, também tensionam as incongruências da contemporaneidade.

Na atualidade, atravessamos uma transformação trazida pela pandemia e o confinamento que complexificaram a percepção sobre o tempo, até então totalmente subvertida ao capital que monetariza instantes a partir da lógica da produção. A disputa revelada pelo conjunto de trabalhos apresentado evidencia a ambiguidade própria da arte que também afirma o lugar do tempo pelo lucro, apropriando-se dos discursos contra-hegemônicos numa espécie de concessão. Mas mais do que tensionar contradições, o que parece mais importante em Ainda sobre o tempo é, pela arte, discutir imagens para vislumbrar possibilidades de sobrevivência e de esperança que nos permitam atravessar os tempos de crise. Para tanto, é necessário observar, rever, prever, reconstruir. Só assim será possível criar não uma, mas diversas possibilidades de futuros.

 


  • Laura Villarosa

    Mata Atlântica 1, 2020

    Linhas , resina e aquarela sobre linho

    53 x 45 cm


  • Laura VillaRosa

    Paisagem 7, 2020

    Aquarela em resina e linhas sobre linho e chassi de madeira

    50 x 40 cm


  • Laura VillaRosa

    Esperando a primavera de Hockney 2, 2020

    Linhas , resina e aquarela sobre linho e chassi de madeira

    55 x 45 cm


  • Aline Moreno

    Sem título 8 - série paralelos e meridianos, 2020

    Impressão fotográfica, aquarela e nanquim sobre papel

    72 x 170 cm


  • Aline Moreno

    Sem título - série paralelos e meridianos, 2020

    Lápis grafite sobre papel e impressão fotográfica

    16 x 13 cm


  • Aline Moreno

    Sem título, 2020

    Madeira e gesso

    29 x 23 x 9.3 cm


  • Uýra Sodoma

    Série Elementar Fogo, 2018

    Impressão em papel fine art

    Foto: Matheus Belém

    100 x 150 cm
    90 x 60 cm


  • Uýra Sodoma

    Série Elementar Fogo, 2018

    Impressão em papel fine art

    Foto: Matheus Belém

    100 x 150 cm
    90 x 60 cm


  • Uýra Sodoma

    Série Elementar Fogo, 2018

    Impressão em papel fine art

    Foto: Matheus Belém

    100 x 150 cm
    90 x 60 cm


  • Uýra Sodoma

    Série Elementar Rio Negro, 2018

    Impressão em papel fine art

    Foto: Ricardo Oliveira

    100 x 150 cm
    90 x 60 cm


  • Uýra Sodoma

    Série Elementar Rio Negro, 2018

    Impressão em papel fine art

    Foto: Ricardo Oliveira

    100 x 150 cm
    90 x 60 cm


  • Uýra Sodoma

    Série Elementar Lama, 2017

    Impressão em papel fine art

    Foto: Keila Serruya

    100 x 150 cm
    90 x 60 cm


  • Ruan D'Ornellas

    Doum fica, 2020

    Acrílica sobre tela

    40 x 60 cm




  • Ruan D'Ornellas

    Intifada tropical, 2020

    Grafite sobre papel

    30 x 21 cm




  • Ruan D'Ornellas

    Intifada tropical, 2020

    Grafite sobre papel

    30 x 21 cm




  • Marcos Duarte

    Série Anatomias, 2018

    Madeira

    102 x 140 x 100 cm


  • Marcos Duarte

    Série Vestígios imagináveis, 2019

    Impressão em papel de algodão

    50 x 75 cm


  • Bruno Weilemann

    Fragmento Paisagem 01, 2020

    Tinta óleo, primer e verniz automotivo sobre chapa de aço

    50 x 50 x 3 cm


  • Bruno Weilemann

    Fragmento Paisagem 02, 2020

    Tinta óleo, primer e verniz automotivo sobre chapa de aço

    50 x 50 x 3 cm


  • Bruno Weilemann

    Fragmento Paisagem 03, 2020

    Tinta óleo, primer e verniz automotivo sobre chapa de aço

    50 x 50 x 3 cm


  • Bruno Weilemann

    Fragmento Paisagem 04, 2020

    Tinta óleo, primer e verniz automotivo sobre chapa de aço

    50 x 50 x 3 cm


  • Vítor Mizael

    Sem título, 2020

    Desenho bordado sobre linho

    120 x 120 cm


  • Vítor Mizael

    Sem título, 2018

    Nanquim sobre papel

    35 x 46 cm


  • Vítor Mizael

    Sem título, 2019

    lápis sobre tecido

    130 x 188 cm

Veja Outros Artistas